Empreendedorismo e inovação para superar o desemprego em tempos de crise

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4 min readMay 12, 2016

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Por Antônio Pedro Lima e Guilherme Santos

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O atual mercado de trabalho é bem diferente daquele vivenciado por nossos pais e avós. Existem vários caminhos já pavimentados para quem sai da faculdade agora: além de trabalhar em multinacionais, no setor público e em outras áreas tradicionais, jovens podem se tornar empreendedores ou atuar em startups e outras empresas de tecnologia. Houve, nos últimos anos, abertura de espaços para novos empreendimentos com foco em projetos inovadores. E, em um contexto de crise econômica e de aumento do desemprego, o setor de startups e de empreendimentos inovadores continua a apresentar crescimento, sendo capaz de gerar postos de trabalhos qualificados. Falta, porém, capacitação técnica para alavancar ainda mais o setor e para estimular a cultura empreendedora.

De acordo com o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), a maioria dos policy makers e acadêmicos concordam que o empreendedorismo é uma força essencial para o desenvolvimento e o bem-estar da sociedade. Empreendedores geram empregos, além de modelarem a inovação e acelerarem mudanças estruturais na economia. Empreendedores também contribuem para aumentar a produtividade de um país, o que é um catalisador para o crescimento da economia e da competitividade.

O empreendedorismo no Brasil

O movimento de empreendedorismo inovador no Brasil tem mais de três décadas e já colheu resultados significativos ao longo desse período. Segundo levantamento realizado pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em 2011 o Brasil contava com 384 incubadoras de empresas que abrigavam um total de 2.640 companhias. Essas empresas empregavam mais de 16 mil pessoas e registraram faturamento superior a 530 milhões de reais. Vale recordar que as incubadoras brasileiras já tinham graduado 2.509 empresas, as quais respondiam por mais de 29.000 empregos e obtinham faturamento acima dos quatro bilhões de reais. Por terem um tamanho menor, esses empreendimentos têm como vantagem a flexibilidade para apostarem no desenvolvimento de inovações, muito diferente da rigidez hierárquica das grandes empresas. Podem, portanto, vir a servir como difusores de conhecimento e tecnologia ao longo da estrutura produtiva.

Em números: dados incentivadores

Além disso, os empreendimentos inovadores são capazes de gerar postos de trabalho qualificados acima da média da economia. Um estudo elaborado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) apontou que, dos 30 mil empregos formais gerados pelas 939 empresas instaladas em Parques Tecnológicos no país, quatro mil eram de mestres e doutores, o equivalente a 13% do total. Desse modo, o empreendedorismo inovador emprega mão de obra altamente qualificada, criando um mercado para mestres e doutores trabalharem com desenvolvimento tecnológico, e consequentemente, retendo talentos no país. Em um período de aumento da taxa do desemprego, esse dado é bastante positivo.

De acordo com a Endeavor, três quartos dos brasileiros aspiram a ser empreendedores e prefeririam ter um negócio próprio a serem empregados ou funcionários de terceiros. Para eles, empreender é um meio para alcançar satisfação, autonomia e realização. Apesar disso, ainda existem obstáculos na área de capacitação e educação para o pleno desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil. Apenas 9% dos brasileiros adultos receberam algum tipo de capacitação sobre como abrir seu negócio, índice muito menor do que o encontrado em outros países na América Latina, como o Chile, onde a taxa é de 43%. Além disso, a gestão de pessoas foi considerada o principal problema enfrentado no cotidiano das empresas brasileiras para 28% dos empreendedores.

Existe, portanto, um contingente expressivo de pessoas qualificadas que poderiam alavancar o empreendedorismo inovador no país, mas não tiveram capacitação, educação e treinamento na área.

Políticas Públicas: uma solução

É importante que haja um esforço conjunto entre o setor público, empresas e a sociedade civil para a promoção de políticas públicas e iniciativas que fomentem a cultura empreendedora no Brasil. Estas políticas são de suma importância: elas devem relativizar conceitos como estabilidade e emprego fixo e, ao mesmo tempo, valorizar conceitos como autonomia e inovação.

Enquanto em alguns países falhar é visto como parte do processo de aprendizado e algo fundamental para depois se alcançar êxito no empreendimento, no Brasil isso ainda é visto como uma vergonha para o empreendedor. A legislação atual, claro, reforça esse vício ao burocratizar ao extremo o processo de declaração de falência. Para que essa visão seja desconstruída e para alavancar empreendedorismo inovador no Brasil, a educação empreendedora deveria estar incluída em todos os níveis educacionais: desde o ensino fundamental até as universidades.

A educação empreendedora não pode ser separada de outras disciplinas e deve ser incorporada às atividades diárias das salas de aula. O ensino básico deveria promover maior interatividade entre empreendedores e professores e estimular habilidades práticas para os alunos. Alguns municípios, como São José dos Campos, já incluíram matérias de empreendedorismo no currículo do ensino fundamental da rede municipal.

A nossa cultura não valoriza o fracasso. É necessário promover culturas e histórias sobre empreendedores para as pessoas terem uma noção mais concreta das vantagens e dos desafios de empreender e para que tenham uma melhor compreensão da realidade. A gestação de uma cultura empreendedora é um processo árduo e de longo prazo. Não podemos perder mais tempo.

*Antônio Pedro Lima é analista de projetos do ITS Rio e Guilherme Santos é doutorando do PPED/UFRJ.

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